"E vendo e ouvindo esse campeiro tão íntimo da terra e da vida, tão iluminado pela sabedoria do coração... você compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só, de norte a sul, de leste a oeste, a despeito de todas as distâncias geográficas - um só no que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade de dar-se, e também de rir da vida, dos outros e de si mesmo." Érico Veríssimo
sábado
Das Amarras...
- Menino, você vai cair! Desça daí, ó peste!
Apesar do receio da mãe sua vida era tirar as cascas do tronco, ou pendurar-se nos galhos da goiabeira enquanto abria as janelas aos sonhos ou descascava pensamentos...
Gostava de sonhar, de imaginar... Imaginar é sempre o melhor dos brinquedos para quem não tem brinquedo.
Um dia, quem sabe, descer a serra, empurrar um barco para o mar - esse deus de água e sal do qual tanto ouviu e ouve falar...
A vó sonhou sonho igual. E agora, sem memória, nem deve lembrar o que é sonho... A vó sonhou, mas não o viu nem vai ver; o que o menino sabe é que, não demora, a vó vai morrer...
E quando acontecer, ele há de cumprir o que, um dia, ela o fez prometer... Ver, tocar, experimentar a água do mar.
Juravam: Tem sabor de lágrima!...
O moleque, ainda lá em cima, mergulhado no gosto do amanhã; audição à deriva...
- Quem pode chorar tanto?...
A mãe, lá embaixo, no chão, esgoelando-se de tanta preocupação:
- Desça daí! Ô meu deus!... Cresça, menino, cresça!...
ju rigoni (1989)
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