sábado

Pão de Pobre *



Mandioca, aipim, macaxeira,
aipi, castelinha, maniveira,
brava ou doce,
dou-me fácil...
Não é paixão; é amor...

Enraizo-me nesta terra,
muito antes
de qualquer descobridor.

Matei a fome
do índio,
do quilombola;
do sertanejo, -
não exijo eira nem beira,
sou a estaca nua,
fincada,
sem bandeira
desfraldada...

Em farinha, ou em pedaços,
desde sempre fui rainha
nos tachos, latões,
panelas de barro,
dos povos dos cafundós.
que saboreiam a mim
e às lendas
que alimento...

Quando cauim
ou tiquira,
sou viagem...
Protejo do frio,
alivio a mesmice...

Ninguém conhece como eu
o coração desta terra...
Dou alento a corpo e alma,
eu, - aguardente e alimento...
sem certidão de nascimento,
deitada sob este chão,
sigo ignorando os ventos,
mantendo de pé o homem;
vencendo a guerra da fome.

Sou promessa que se cumpre
por natureza...

ju rigoni
(1999)

* Pão de Pobre é um dos nomes pelos quais é conhecida a raiz.


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