"E vendo e ouvindo esse campeiro tão íntimo da terra e da vida, tão iluminado pela sabedoria do coração... você compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só, de norte a sul, de leste a oeste, a despeito de todas as distâncias geográficas - um só no que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade de dar-se, e também de rir da vida, dos outros e de si mesmo." Érico Veríssimo
sábado
Pão de Pobre *
Mandioca, aipim, macaxeira,
aipi, castelinha, maniveira,
brava ou doce,
dou-me fácil...
Não é paixão; é amor...
Enraizo-me nesta terra,
muito antes
de qualquer descobridor.
Matei a fome
do índio,
do quilombola;
do sertanejo, -
não exijo eira nem beira,
sou a estaca nua,
fincada,
sem bandeira
desfraldada...
Em farinha, ou em pedaços,
desde sempre fui rainha
nos tachos, latões,
panelas de barro,
dos povos dos cafundós.
que saboreiam a mim
e às lendas
que alimento...
Quando cauim
ou tiquira,
sou viagem...
Protejo do frio,
alivio a mesmice...
Ninguém conhece como eu
o coração desta terra...
Dou alento a corpo e alma,
eu, - aguardente e alimento...
sem certidão de nascimento,
deitada sob este chão,
sigo ignorando os ventos,
mantendo de pé o homem;
vencendo a guerra da fome.
Sou promessa que se cumpre
por natureza...
ju rigoni (1999)
* Pão de Pobre é um dos nomes pelos quais é conhecida a raiz.
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