... tá a muié recramando
do lugá onde nóis mora...
cumo se nóis pudesse,
argum dia, i simbora!
- Zé, isso num é vida,
nem pra nóis
nem prus minino.
Lá, na cidade grande,
nóis ia tê ôtro distino.
Fico muntio aperreado
cum toda essa falação,
às vêis inté penso inhí,
mas acho que passô da hora...
Só vejo rente vortano
cum as mão abanano,
e beijano o chão
que um dia abandonarum.
Só vejo rente falano
das dificurdade que é
tentá vivê nas cidade.
Acá tudé muntio difírce,
mar é um chão cunhecido,
as vêis nóis num come bem,
mar tumém num passa fome,
que famía grande nóis tem.
Quano a coisa aperta
nóis come na casa dum irmão,
onde sempre há de tê o fubá
prum angú bem ralinho,
ô um cardinho carqué.
Si nóis vamo pra cidade
i as coisa fica preta,
quem nóis vai procurá?...
Hein? Hein?...
Quem?
Prá lá, nóis num tem ninguém!
Sempre falo pra muié
pra mó de sussegá o facho,
que acá nóis tem onde morá,
nóis cunhece os caminho
de í e de vortá,
i nem percisa pagá
pra interrá nossos morto...
Acá só percisa mermo
da mãozinha do santinho, -
u´a chuvinha por mês
já ia acabá c´us medo
de toda essa rente boa,
incrusive da muié
que num larga do meu pé.
...
Ói, meu santinho amado,
nóis veve de rezá procê,
mar reza só lava a alma,
o chão tem que sê moiado!
O beato insinô,
i nóis num aprendeu errado:
negá água é pecado!
Ói, meu santinho adorado,
si chuva é coisa de rico,
nóis vai morrê tudo seco,
que acá num tem rico naum.
Acá só tem quem num tem...
Só num farta é oraçaum...
ju rigoni (1992)
Um comentário:
Espetacular. Sentido. Bem escrito. Na linguagem da terra. Com todos os vícios peculiares ao lugar. E ainda tem toda essa verdade do contexto. Em cidade grande sempre se está sozinho. Nem sei como cheguei até aqui. Mas isso pouco importa. O que vale é que amei seu poema.
Vou ler mais. Abraços.
RobMaia
http://thirinhas.wordpress.com/
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