"E vendo e ouvindo esse campeiro tão íntimo da terra e da vida, tão iluminado pela sabedoria do coração... você compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só, de norte a sul, de leste a oeste, a despeito de todas as distâncias geográficas - um só no que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade de dar-se, e também de rir da vida, dos outros e de si mesmo." Érico Veríssimo
sábado
No Susto...
... num cabe dentro du zóio
qui Nosso Sinhô mi deu...
É coisa di assustá!
Dá pra metê pur lá,
dentro do tar de mar,
todo açude qu'io cunheço,
todos rio qu'ieu vi
pur todo o caminho que fiz
pra chegá inté ali.
Can'ieu vortá pra casa,
i contá tud'iss'aí,
ninguém vai'creditá n'eu...
vão pensá: Maluqueceu!
Falano bem a verdade,
ni eu tô creditano,...
ind'acho qui tô sonhano!...
As coisa nesse mundão
tão mesmo toda errada...
Iera tanta rente rica,
fromosa e alimentada,
andano pel's carçada...
Rente correnu tumém, -
eles córri todo dia,
só num sei atrás di quê?...
só num vi atrás di quem...
Tem uns carro muim munito,
uns armazem infeitado,
cum nome de supermercado,
- tan grandi feito o tar mar -
onde se vende di tudo!...
Ah, s'ieu tinha um trocado!...
Ói, can'ieu contá,
ninguém vai mi creditá...
Derde cano lá cheguei
qui num parô di chuvê...
Tô moiado inté a arma!...
Ô meu santinho amado,
cano ocê mandá água
presse povo infatiotado,
manda tumém pru ôtro lado!...
Transantônti, miô padrinho
me levô pr'andá num trem
isquisito como só...
Trem danad'i bonito!...
Corre dibaxo da terra,
qui nem qui bix'assustado, -
ieu nunca andei num anssim,
tan macio i'istabanado!
In casa di miô padrinho,
tem uma talevisão
qui inguá io nunca vi!...
Num é qui nem a da igreja
de lá di adonde eu narsci...
Ocê só tem que apretá
um tar di... di... contrô remó!...
Ocê fica sentadinho,
sem saí do seu lugá,
apretano us botãozinho
pra inscolhê os caná.
Tanto apretei os botão
que as geringonça quebrô, -
a talevisão i u contrô.
Ói, can'ieu contá,
ninguém vai mi creditá...
Mar num é só isso, nãão!...
A bixa tem um filhote
pur nome di com puta dô...
Ui, qui nome mais feio!
Miô padrim m'insinô
qui é mió qui o talifone
(que acá num carece fio!...)
I num é qui ele vê cum quem fala!...
I fala cu's mund'todim, -
inté dondi as vista num arcança -,
abancado nos macio?!...
Mar num é só isso nãão!...
Dispois qui ele catucou
os botão c'uas letrinha,
de repente, pareceu
nas talevisão do bixo
uas muié porreta, -
mar bunita nunca vi! -
do jeito qui vier'u mundo...
as cara lavada e safada,
mostrano bunda i feofó,
fazeno coisa cus hômi...
Tinha hômi cum hômi, -
inté muié cum muié!...
I padrinho se rino di mim...
Fiquei mar'ssanhadinho
qui cano, nas sexta-fera,
vô c'us amigo da fêra
vê as minina da Guimba!...
Ói, can'ieu contá,
ninguém vai mi creditá...
Mar o qui mar mi assustô, -
o maió dos milagre -,
io vô contá ié agora...
Cano cheguei por lá,
padrinho mar madrinha
fôro buscá ieu
na tar de rondoviária.
Madrinha, tan arrumadinha,
mar dava pra rente notá
qui o tempo passô i amassô
a cara da coitadinha,
ieu pensei:
Tadinha da minha santinha!...
já tá ficanu veinha...
Pois num é que adispois
qu'iela foi num tar dotô,
- io vi; ninguém mi contô! -
a madrinha'pareceu
qui nem qui u'a mocinha!...
Us nariz mu'irrebitado,
as cara mu'isticadinha
as bochecha nos lugá...
S'ieu num ficava vexado
ia preguntá praiela
si vortô a sê donzela?!...
Inté falei pu padrinho:
Ma'isso num é um dotô,
é um santo milagrêro!
Padrinho, pur Jésuz Cristinho,
me dê só um cadinho
da sua sorte tan grande!...
Perciso sabê o nome
desse hôme abençoado,
fazê uas oraçãozinha
prêsse santinho arretado.
Quem sabe se iô rezá,
quano ieu vortá pra lá,
pra minha Maria Morena,
incontro ela mar lisinha,
anssim, qui nem qui a madrinha?!...
I u padrinho i a madrinha
ficaro se rino di mim...
Riro tanto,... i riro tanto,...
dero tanta gargaiada,
qui fiquei incafifado...
Ieu lá, pensano in santo,...
i vai vê qui u tar incanto
ni é coisa dos sagrado!...
Podi ser arma vendida
praquel'qui num falo u nome...
Tratei de juntá minhas troxa,
i mi botá na istrada...
Ficá anssim a'arcance
dos chifre do coisa ruim?...
Ninguém vai tirá di mim
a aligria di espaiá
no lugá adonde moro
tod'essas coisa istranha,
qui passô pelos meu zóio!
Ói, tô dioido pra chegá!
Dioidinho prá contá!
Mar já sei qui can'ieu contá,
ninguém vai mi creditá...
Falano bem a verdade,
ni'eu tô'creditano...
ind'acho qui tô sonhano!...
ju rigoni (sem registro de data)
2 Comentários
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2 comentários:
Ju querida, li tudim! A D O R E I!!! Hahaha! Cheguei a imaginar as cenas! Só não reli porque o sono está demais, mas vontade não falta.
Um lindo fim de semana.
Té mais.
Beijos caipiras.
Ola, Ju, é de morrer de rir esse seu blog. Nossa como é engraçado, e verdadeiro essas coisas. O verdadeiro retrato do brasileiro autêntico
Vou seguir seu blog.
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Ele foi criado para abençoar a sua vida, com artigos
preparados para tocar o seu coração!
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PS - Mas todas estas coisas são o princípio de dores.
Mateus 24:8
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