domingo

Melado, Queijo e Rapadura...



Cé azú, brasa no chão.
Inté a parca verdança
tem pó vermeio grudado
nos talo cor de esperança.
Os cacto espinhado,
as pôca fôia das árve,
têm a cor da chaga viva.

As ave - ocê tem razão -,
num tenho visto mais não!

Os minino, tão magrim...
Inguá gado em pasto seco.
As pessoa, gente boa,
que nóis pode confiá,
tudo cheim d'esperança,
qui nem quando eu, mais moço,
aresorvi me mudá.

Inda tem porcissão
pra mó de agradá os santo!

Mainha, muntio veinha,
já num pode mais andá.
Painho, no oitão da casa,
u'zóio pregado na estrada,
inda parece esperá...

Os mano tudo casado,
- as muié embarrigada -,
é dez minino pra cada.

As sina indé pesada,
as pessoa é bem mais leve...
Os gesto num é tan largo
feito é lá na cidade,
mas tumém nem é perciso...

Os passo indé curtim,
o tempo indé devagá,
só a fome anda dipressa...

Inté falei pros amigo
da tar crise do governo.
Acharum mar muntia graça!...
Num sabem o que é cpi,
persidente, inmunidade,
- pensarum fosse comida!
E quano garrei a expricá
disserum que vortei letrado.
Só conhecem deputado
que aparece correno,
quano a chuva se recóie,
pra dá farinha por voto
e levá nossas minina...

Quano contei dos mião
que ovi na talevisão,
u'zóio deste tamanho!,
acharum qu’io endioidiava,
qu’io tinha fumado as erva
que sobra lá nas carçada
da cidade indinherada:
- Arguém é tão rico, ó xente?!

Quano tem munta disgraça
tem uns repórte que passa
c'us saquinho do miojo, -
aquele macarrãozinho
que vende lá, nus mercado,
e que eles distribui
em troca dum cunversê
e dumas pose engraçada
pras máquina de retrato
e pros firme que eles faiz.

Debaixo do só ardente
muntia casa que é de barro
arriba dos quengo da gente,
dano sustança a minino
que esfarofa as parede.

- Sai da rede e faz a mala!
Vamos embora, afilhado!
Por aqui nada mudou,
vamos voltar pra cidade...
Você já matou a saudade.


Num carece convencê
daquilo que eu posso vê
c'o zóio que essa terra
cum certeza há de cumê!

Madrinha, pensei bastante,
e num vô vortá mais não.
Minha raiz tá fincada.
I'o num quero mais fugi
dos traçado do distino.
A cidade é ôtro mundo,
mainha diz que é do demo...

Ocê vai, e eu fico
inté quando deus quisé...
Cansei de virá cimento!
Cumê má, chorá, rezá,
meu povo sabe de có, -
num carece decorá.

Di veiz em quano ocê vem,
pra vê nóis e proseá.
Num traiz notiça ruim
que nóis tamu protegido
daquel's tiro bandido
que garra gente na rua.
Acá num percisa voto
pra tê ou num tê revólvi, -
us cabra-macho safado,
acá nóis passa na faca
i os carcará faz o resto.

Traiz só as coisa bonita,
as coisa que vale a pena,
as coisa do coração,
que na nossa inguinorânça
nóis sabe bem o que é bão!

Às veiz nóis se faz de bôbo,
mas sabe que um mais um
vai sê sempi menos um.
Nóis veve fazeno conta
de somá, diminuí...
Nóis divedi muntia coisa,
inté o que nóis num tem.
Mutipricá? Só a fome,
a sede, o cansaço da lida,
muntia oração,
e a esperança
que deita cum nóis na rede.

Na cidade - isso eu vi! -
ninguém sabe dividi.
Adispois, nóis é que é burro!

Vá, madrinha querida,
veve lá a tua vida,
aquela vida currida,
que eu por aqui vô parano,
tratano de me acomodá
num canto do chão, na lida,
na pureza, na lindeza
do lugá onde eu narci.

Ocê iscolheu sofrê,
nóis veve pra contemprá...

- Vá cum deus e nossa sinhora!

ju rigoni (em set/2005)


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