sexta-feira

Natá



Indé novembro
e o estômbo,
cheio de espaço e de ronco,
sente o xêro de dezembro...

Hummmm! Coisa mais boa!...
Pru mim e pru mínia famía
Nossu Sinhô Jesus Cristo
pudia nascê todo dia...

No Natá se come muntio,
todo mundo qué ajudá, -
o pobrema é os ôtro dia...

É só no Natá que nóis pode
enchê muntio bem as pança.
Nos ôtro dia do ano
nóis cata resto no lixo,
nóis come terra, rebôco,
nóis põe carqué coisa na boca,
e mastiga o que num tem,
que graças a Nosso Sinhô,
imaginaçaum num farta
i inté faz muntio bem
pro má de comida parca.

No Natá se come muntio,
graças a vige Maria
e o anjo anunciadô, -
graças a nosso sinhô!

As pança é só verme filiz...

As criança fica dioida
só de vê as comidada,
inda ganhum brinquedo, -
livrim, boneca, bola...
é uma aligria danada!

O pobrema dos minino
é qui eles num sabe brincá;
ganha os brinquedo em dezembro,
veve cum eles na boca,
e nem bem é feverêro
e já tudo comêrum!

O Natá é cumê bem
e rezá pra chegá vivo
no Natá do ano que vem...

Pru mim e pru mínia famía,
Nosso Sinhô Jesus Cristo
pudia nascê todo dia...

ju rigoni (1993)


1 Comentários


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Um comentário:

O Amor disse...

Ju,


eu não havia lido esse poema aqui. Mas agora, ao final da leitura (talvez influenciado pelo último verso da penúltima estrofe), quase soltei um 'Amém'.

Isso é uma oração brejeira, transbordando os sentimentos e as verdades sociais mais tristes de nosso país.

Não há elogios a altura de um texto assim. Então, na impossibilidade do aplauso, deixo um sincero...

MUITO OBRIGADO!


:-)