"E vendo e ouvindo esse campeiro tão íntimo da terra e da vida, tão iluminado pela sabedoria do coração... você compreenderá que o homem brasileiro é milagrosamente um só, de norte a sul, de leste a oeste, a despeito de todas as distâncias geográficas - um só no que possui de essencial: a cordialidade, o horror à violência, a capacidade de dar-se, e também de rir da vida, dos outros e de si mesmo." Érico Veríssimo
sexta-feira
Natá
Indé novembro
e o estômbo,
cheio de espaço e de ronco,
sente o xêro de dezembro...
Hummmm! Coisa mais boa!...
Pru mim e pru mínia famía
Nossu Sinhô Jesus Cristo
pudia nascê todo dia...
No Natá se come muntio,
todo mundo qué ajudá, -
o pobrema é os ôtro dia...
É só no Natá que nóis pode
enchê muntio bem as pança.
Nos ôtro dia do ano
nóis cata resto no lixo,
nóis come terra, rebôco,
nóis põe carqué coisa na boca,
e mastiga o que num tem,
que graças a Nosso Sinhô,
imaginaçaum num farta
i inté faz muntio bem
pro má de comida parca.
No Natá se come muntio,
graças a vige Maria
e o anjo anunciadô, -
graças a nosso sinhô!
As pança é só verme filiz...
As criança fica dioida
só de vê as comidada,
inda ganhum brinquedo, -
livrim, boneca, bola...
é uma aligria danada!
O pobrema dos minino
é qui eles num sabe brincá;
ganha os brinquedo em dezembro,
veve cum eles na boca,
e nem bem é feverêro
e já tudo comêrum!
O Natá é cumê bem
e rezá pra chegá vivo
no Natá do ano que vem...
Pru mim e pru mínia famía,
Nosso Sinhô Jesus Cristo
pudia nascê todo dia...
ju rigoni (1993)
1 Comentários
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Um comentário:
Ju,
eu não havia lido esse poema aqui. Mas agora, ao final da leitura (talvez influenciado pelo último verso da penúltima estrofe), quase soltei um 'Amém'.
Isso é uma oração brejeira, transbordando os sentimentos e as verdades sociais mais tristes de nosso país.
Não há elogios a altura de um texto assim. Então, na impossibilidade do aplauso, deixo um sincero...
MUITO OBRIGADO!
:-)
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